sábado, 23 de fevereiro de 2013

A peleia no reino dos galináceos;



Era uma vez uma história que ocorreu num terreiro. Neste local havia galináceos a ciscar à procura de minhocas, milho e insetos a serem consumidos por essas aves de vôo curto. Neste cenário ao ar livre, havia um peru vermelho garboso com seu glu-glu-glu , e um galo com uma deficiência visual numa das vistas, fruto de uma briga outrora numa rinha clandestina, que deixara sequelas .Mas mesmo assim esse galo enxergava bem e vigiava suas galinhas com rédeas curtas. Já o peru era solitário e viúvo, pois sua fêmea morreu ao cair de um caminhão numa curva de estrada sinuosa. 0 peru não estava morto, e começou a dar em cima de uma jovem galinha carijó formosa, com suas penas brilhosas que tranquilamente ciscava sem nenhuma preocupação .Foi aí então que o peru solitário atacou a jovem penosa no terreiro, depois de cerca-la num canto. E pimba ! Beijou a jovem franguinha. 0 galo então ficou roxo, vermelho de raiva, e correu atrás do peru. Era um cocoricó prá lá e prá cá e glu-glu-glu também .Foi quando os dois se embolaram na terra vermelha, levantando poeira e penas para todos os lados. 0 peru por cima e o galo cego por baixo e vice-versa. As galinhas nervosas gritavam : o galo vai acabar com o peru, vai rasga-lo ao meio. 0utras diziam: o peru não vai aguentar a luta aviária. E a peleia continuava com os pintinhos mudos e assustados que corriam para debaixo das asas da mãe, fugindo da briga. E a luta continuava. 0 peru já mole se revigora após um gole de água e vinha duro em cima do velho galo, que por sua vez bicava a cabeça do peru dando voltas no ar. Enquanto isto algumas galinhas gritavam para o galo: chute o peru, dê uma pernada nele, dê uma gravata no peru! Em outro canto do terreiro, algumas galinhas desprezadas pelo galo torciam pelo peru e gritavam: vamos lá, dê uma yesoura voadora no galo, soque o seu fígado. E a luta contiuava. 0 peru, duro na queda, já estava cambaleando. 0 galo mancava e sangrava. Depois de horas o peru cansou, caiu no canto, desfalecido e o galo rouco caiu de lado. Vieram então as galinhas enfermeiras e massagearam os brigões tentando reanima-los. Mas nada . 0 peru acabou virando ceia de Natal e o galo, caldo para o jantar, pois o dono do terreiro estava constipado.

0 quebra - pau escolar;



Na pacata Ring – Village, localidade cercada por outras comunidades como Koréia, Frog e Rebu, havia uma escola onde a educação tentava se impor formando alunos para a globalização, apesar da clientela difícil de se educar. Entre bombas no banheiro, brigas no pátio, guerra das maçãs no refeitório e pó de mico em sala de aula, as aulas iam transcorrendo com uma certa normalidade. Numa bela tarde de Primavera, uma jovem senhora entra pela escola bufando para tirar satisfação com uma aluna da unidade escolar, que teria roubado seu marido e estaria tendo um relacionamento amoroso com ele, mais conhecido na comunidade de Ring-Village como” Rambo de Senador Bagdá”. Segundo a história, as duas amada amantes se encontraram no pátio escolar após o término do recreio, e, após um bate-boca rápido acelerado, regado de palavrões, a briga do século começou: eram tapas, mordidas, puxões de cabelos, pernadas, tesoura voadora, raquetadas, dedo no olho, blusas rasgadas, seios à mostra, calcinhas de renda furadas à mostra etc... .A briga continuava, rolaram a escada, as unhas percorreram a geografia dos corpos adolescentes ao redor dos alunos que eufóricos gritavam, apostavam, faziam comentários enquanto outros incentivavam a luta corporal. Houve até alguém que armou uma banca de produtos pós briga como Gelol, pomada Minâncora, Mercúrio cromo, Merthiolate, toalhas quentes, enquanto outros vendiam protetor solar e Mate Leão por causa do calor primaveril .A luta continuava ferrenha; eram socos , pontapés... Um professor calvo como uma bola de bilhar, tentou apaziguar os ânimos; já um outro professor organizou a luta e fez soar o gongo do primeiro round. Neste intervalo um professor macrobiótico que já fora campeão “Peso Mosca” na juventude, orientava a sua aluna brigona. Um outro mestre orientava a intrusa escolar, enquanto um professor de Educação Física cercava o pátio com uma fita para formar um ringue .Soa o gongo e recomeça a briga: tapas e mais gente chegando. Como a direção tem muita fé, começou a orar fervorosamente para espantar dos corpos das pugilistas os espíritos maus que continuavam rolando e brigando pelo chão .Enquanto isto apareciam já os hematomas, pequenos cortes, os arroxeados. A diretora levou o seu quinhão, pois acabou levando um pontapé na coxa e ficou mandando e roxa; a coordenadora levou um pisão no pé e tinha acabado de pintar as unhas no salão. E a briga continuava... As brigonas exaustas, cambaleando no ringue improvisado. Foi aí que alguém lembrou de chamar a Guarda Municipal, chamar a P M , a polícia federal, a milícia local e, quando as forças da lei chegaram deram tiros para o ar, acertaram alguns com balas de borracha, outros com balas traçantes, outros atingidos por balas Juquinha, e, enfim a briga terminou. Uma brigona saiu mancando, a outra com um braço luxado e a espinhela caída, olho roxo e a costela trincada. 0s alunos foram para a sala de aula e a rotina voltou ao som de “Bandeira Branca” de Dalva de 0liveira. No chão, pingos de sangue, restos de uniforme escolar, sandálias com tiras arrebentadas. As pugilistas prometeram retomar a briga em breve. Quem viver verá !

Pintinho de 0uro



Safardana Guedes fez concurso para recenseador do IBGE, queria ajudar a fazer a estatística do seu gigante país. Dá início ao seu trabalho indo a pé, de carro, de bicicleta, de skate ou de patinete. Sugue ele pelos grotões perdidos e chega a um povoado perdido no sertão, paisagem rústica; as pessoas quando viram o seu carro correram com medo pois pensaram que fosse um monstro fumegando, soltando brasa. Bateu à porta de uma casa de sapê, chão batido, muitas crianças barrigudinhas descalças, esperando para serem atendidas pelo PAC. Dentre as pessoas havia uma jovem morena jambo, olhos amendoados e coxas roliças. Durante o censo rolou um clima , risinhos tímidos, perguntou a sua idade e ela respondeu que tinha 22 anos. Conversa vai, conversa vem, foram para dentro do milharal e pimba, e,mesmo sendo picado por uma cobra , nem ligou e continuou mesmo com a bunda envenenada, finalizaram o recenseamento com chave de ouro, nove meses depois nasceu um menino com uma marca de nascença de Safardana Guedes. Foi batizado com o nome de Fichaldo 201. Não teve jeito, registrou a criança, batizou, culpou a camisinha chinesa que arrebentou na hora H. Jurou nunca mais comprar preservativo no camelô. Seguiu ele com sua prancheta fazendo perguntas, entrevistando pessoas. Parou numa lanchonete de beira de estrada, pediu um ovo daqueles coloridos e um refrigerante. A garçonete que lhe serviu sorriu, e ele não conversou ; após preencher o formulário, foi para o depósito atrás das caixas de cervejas e pimba, e ainda ganhou a refeição grátis. Depois se lembrou que esqueceu de usar camisinha, não deu outra; nove meses depois nasceu uma linda menina confirmada pelo teste de DNA , e registrou mais um filho no seu currículo... Mudou de rota, foi para o sul, chegou em Bagé , não deu outra, foi de casa em casa e numa delas entrevistou uma viúva que não parava de piscar o olho para Safardana Guedes. Ele pensou que fosse um cisco, se atrapalhou nas perguntas, e entre um chimarrão e um bolo de cuca, pimba, mais um gauchito de bombacha nasceria e , mais tarde se tornaria o caminhoneiro John Tex, estradeiro e pegador. Depois segue nosso recenseador para Minas Gerais, ficou com o bico seco, cravou treze pontos na loteria, era um tal de Safardana Guedes Junior ou Filho.Chega então ao Rio de Janeiro cansado de tanto preencher formulário e foi entregar o relatório quando verificou que faltava um, o último, encontrou uma mulata estonteante, rebolativa, esqueceu as perguntas e pimba, no rala e rola sentiu uma barba áspera, um gogó , resolveu mudar de profissão.