Poesias do Professor


Cheiro de Amor

Cheiro de amor acre-doce
Exalado de dois corpos ardentes de paixão
Cheiro de amor deixa marcas
Num lençol acetinado
O cheiro do amor impregna
O ar suavemente
Pode ser sentido depois
Em lembranças futuras
Quando a saudade de um momento
Vem à tona de repente
Cheiro de amor também das flores primaveris
Atraindo beija-flores polinizadores
O inseto faminto
A ansiedade de se perpetuar um momento
Traz remotas recordações de dias
Que pareciam séculos
Hoje não passam de segundos
Em velhos dias.

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Solidão acompanhada

No meio da multidão de pés acelerados
Onde pensamentos reclusos
Resistem em não serem expulsos da mente para sempre
Solidão em meio às buzinas
Que agridem aos ouvidos sensíveis a Bethovem
Sensíveis ao choro de uma criança alertando a mãe
Solidão no meio da multidão
Como uma ilha perdida num oceano
Cujo horizonte é apenas avistado pela linha d’água
Solidão onde o grito represado da alma
Não consegue explodir no ar
Solidão não é só noturna
Quando a natureza desacelera
Refazendo as energias para mais um dia
Solidão é sim a cada minuto a falta
De uma peça do grande quebra-cabeça
Que ao longo de uma existência vai sendo montado
Somando
Multiplicando
Dividindo
Subtraindo
No final igualdade
Solidão é ver que tudo passou tão rápido
E a última página de um livro esta prestes a virar
Fica só a interrogação do que será?
É angustiante.

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Pássaro de fogo(Nova)

Riscando o embrasado céu
Deixando um rastro luminoso
Numa manhã outonal
São asas da liberdade
Num voo ligeiro e apressado
Semeando a floresta
Com novas espécies que brotam
De um solo úmido e nevoento 
Numa manhã onde o orvalho suaviza a vida
Frenética entre galhos e folhas
Que caem sobre um tapete forrado de matéria-prima
Alimentando pequenos seres
Pássaro de fogo
Paixão ardente
Dentro de um peito flamejante de amor
Saudade que machuca
Sonhos já desfeitos
Dúvidas futuras
Momentos passageiros
Louca paixão
Sacudir a poeira
Recomeçar o voo
A esperança
Nova aventura surgirá
E o pássaro de fogo
Voará sempre

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 A despedida da Fêxix 

Foi o último voo melancólico
A voz doce emudeceu de vez
A ansiedade se desfez
Nunca mais 
Os olhos nos olhos
A palavra amiga findou
O pensamento em flash
São só recordações vagas
De momentos febris
O calor dos lábios
Deram lugar ao silencioso glacial
Lembranças ficaram
Apagadas numa velha foto desbotada 
O passado é apenas um recorte de jornal
jogado dentro de um baú
Largado empoeirado num porão
O último voo da fênix foi solitário
E se perdeu no horizonte
Com o apagar do poente

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 Imaginis perpetuus 

O fogo da paixão virou cinza
Queimava lentamente
Mas apagou
Como uma estrela cadente Cruzando o universo negrume
Parecia eterna
Se renovando a cada encontro
O pensamento era só o prazer
Imediatismo
O presente
Lá fora o mundo explodia em intolerância e lamúrias
Nas quatro paredes a única testemunha
Só o calor dos corpos
Os lábios quentes
As línguas entrelaçadas
A vida valendo a pena
E não só uma causa perdida
E assim foram
Verões ardentes
Outonos cinzas
Invernos gélidos
Primaveras floridas
Exalando perfumes
Doce de uma paixão.
Mas o tempo consome tudo
E a chama apagou.

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 Veneno 

Fel
Amargo como um fruto putris
Ácido
Corrói as entranhas de um sentimento
Contamina a alma fulgida
Veneno maléfico
Atordoa a mente
Acelera o pensamento
Martelando sem parar
Veneno em doses homeopáticas
Gotejamento
Infiltrando-se nas veias
Dilatadas de ódio e paixão
Tantas ilusões perdidas
Fogo ingênuo arde
Só cinzas ficaram
Lembranças perdidas
Tatuadas na pele quase eterna
Veneno das palavras que ferem
Mais que o machado
Que escorre a seiva
Quando não exala mais o frescor do sândalo
Veneno que intriga
Mágoas de um amor diluviano não correspondido
Arde como um sol em brasa
Num deserto de uma vida
Condenado a uma noite escura.

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Arrependimento

Arrependimento de não tentar e tentar
Realizar sonhos tão intensos
Hoje apenas projetos amarelados comidos por traças 
Esquecidos numa gaveta qualquer
Arrependimento de não ter cortado os laços
Que hoje viraram nós que sufocam
O tempo passou entre primaveras curtas
E invernos de eterna de solidão
Arrependimento, pura falta de coragem
Medo das consequências
Talvez de não magoar alguém que realmente lhe ama
Correr o risco de buscar a felicidade
Um simples carinho vale muito mais
Do que um bem material
A solidão nos traz reflexões
Pode ser dura
Ou simplesmente alívio de certas situações
Cuja ignorância às vezes nos cerca
Passaram-se décadas perdidas
De que vale ter conhecimento
Se a mediocridade oceânica
Cerca uma ilha de cultura?
Agora é tarde, o som das trombetas se aproxima
Escutam-se ao longe seus primeiros acordes.

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 Bumerangue 

Quando partiu a manhã era sonolenta
Despertava entre brumas encobrindo a serra
Quando partiu deixou para trás uma história
Lembranças registradas na retina
Quando partiu levou sonhos
Deixou saudades
A fé foi a sua companheira
Na esperança de um dia voltar
Quando voltou a sua amante arranjara um amante
Seus amigos já tinham se despedido para sempre
Nada mais lembrava o passado
As ruas empoeiradas
O asfalto negro cobriu as recordações
Carros velozes atropelavam pés de caminhada lenta
O céu era escuro e nevoento
Enfumaçado
Arranha-céus furavam as nuvens alvas
Quando voltou a desilusão encheu o peito
De angústia
Numa metamorfose progressiva
Tudo havia mudado
Só que ainda a ilusão
De ver tudo num passado
Atormentava
O que não tem remédio
Remediado está.

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Batalha Invencível
Quebre todos os relógios
Cronômetros
Se tranque num quarto escuro
Sem ver o sol
Nem a lua 
Muito menos as estrelas
Esmague a folhinha da parede
Jogue a ampulheta fora
Quebre os ponteiros do relógio
Arranque o calendário em imã da geladeira
Coloque no congelador
Elimine o tique-taque do despertador que escraviza
Esmague-o com um martelo
Quando terminar vai ver que mesmo assim
O tempo passou.

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 Pássaro de fogo
Que mbrasado céu
Deixando umbre todos os relógios
| Numa manhã outonal
São asas da liberdade
Num voo ligeiro e apressado
Semeando a floresta
Com novaso e nevoento
Numa manhã espécies que brotam
De um solo úmidonde o orvalho suaviza a vida
Frenética entre galhos e folhas
Que caem sobre um tapete forrado de matéria prima
Alimentando pequenos seres
Pássaro de fogo
Paixão ardente
Dentro de um peito flamejante de amor
Saudade que machuca
Sonhos já desfeitos
Dúvidas futuras
Momentos passageiros
Louca paixão
Sacudir a poeira
Recomeçar o voo
A esperança
Nova aventura surgirá
E o pássaro de fogo
Voará sempre

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Lembranças

Quebre todos os relógios
| Tão rápido
Que nem se percebeu
No rosto apenas marcas de expressão
Passaram-se os anos...
Como água corrente dos rios
Levando e rolando seixos
Em meândricos caminhos
Anos de rebeldia
De felicidade
Infortúnios passageiros
Amores que se foram
Imagens que marcaram
Sonhos que ficaram apenas em sonhos
O tempo este maldito tempo
Corrói a alma
O corpo
Tempo de esperar
E esperar
A cada segundo envelhece
Tão rápido
Mal nasceu
Embraquece os cabelos
Passam-se primaveras floridas
Verões ardentes
Invernos gélidos
Outonos chuvosos
Passa a juventude
Tão rápido
Que parece que foi ontem o amanhecer

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Rios de minha vida
Quebre todos os relógios
| Mansos
Agitados
Encachoeirados
Sinuosos
Rios de lágrimas
Passaram
Quando foste embora
De sangue partiu meu coração
Rios de leve correnteza
Como passos da velhice
Turbulentos de crises passageiras
Rios de solidão em noites maldormidas
Luar iluminando meus caminhos
Águas passageiras ano após ano
Navegadas
Marcando o tempo
Rio Preguiça
Onde nas margens estiquei minha rede
São Francisco
Onde avistei a bela morena a lavar roupa à margem
Rio Amazonas quase naufraguei
No Paraíba do Sul café plantei
No Paraná corredeiras enfrentei
No Rio de Janeiro fiquei.

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 Guri
Quebre todos os relógios
Cronômetros
Liberdade total
Espaço livre
Sem compromisso
Só a liberdade pampeira
Porque o amadurecer
As regras impostas
Tolhendo-lhe a vida
As preocupações do dia a dia
A luta árdua pela sobrevivência
Disputa acirrada
A procura do norte
O pouco riso
Semblante cerrado
As marcas de expressão no rosto
Os primeiros fios grisalhos aparecem
Logo dá lugar ao branco algodão
O guri cresceu
Sonhos da infância alguns se realizaram
Outros ficaram amarelados em velhos papéis
Esquecidos em uma gaveta qualquer
O tempo como um cronômetro passou
E hoje o guri vive só de recordações
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Amor e ódio
Quebre todos os relógios
Cronômetros
Amor todos procuram
Ódio veneno amargo como o fel
Amor e ódio caminham lado a lado
No fio da navalha
Ódio ácido e mortal
Amor doce néctar de uma flor
Amor se transforma em ódio
Quando não há mais compreensão
O dia alterando a química de um sentimento
Destroí as células corporais benignas
Hoje amor
Amanhã ódio
Se misturam num só sentimento
Um dia tudo deve passar
Como uma tempestade tropical



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 Último desejo
Quebre todos os relógios
Cronômetros
Quando chegar a hora
Me enterrem em Buenos Aires
Meu coração no Obelisco
Meu sexo na boemia do Caminito Meu corpo na Recoleta
Minhas cinzas na Parque Japonês
Meu cérebro no Puerto Madero
Enterrem minha alma na Terra do Fogo
Meus sentimentos depositem em Jujuy
Nos Andes coloridos
Minhas lembranças espalhem ao vento pampeiro
Deixe marcas de meus pés na Calle Florida
Minha eterna voz emudecida se perpetue
Num show de um tango lascivo
Jogue meus medos e angústias no doce Rio da Prata
Escreva na lápide
Buenos Aires querida
Saudades eternas

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Solidão
Quebre todos os relógios
Cronômetros
Matadeira
Crônica
Homeopática
Segundos eternos
Intermináveis
Beco escuro
Sem saída
Claustrofóbica
Angustiante
Comprime a alma
Dor física
É como não conseguir
Pegar o sol com a mão
Solidão diamante bruto
Dentro da alma.

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Cheiros da infância
Quebre todos os relógios
Cronômetros
Fragrância caseira
Fogão a lenha
Cheiro matinal
Flores primaveris
Cheiro da terra molhada
Após a chuva
Capim-limão
Fruta madura no pé
Perfume de jasmim no canteiro
Cheiro do teu gozo quente
Da dama-da-noite
Cheiro de minha terra
Do bosque de eucalipto
Água da cachoeira
A escorrer entre as pedras
Cheiro do café torrado
Coado no pano
O tempero que dá o sabor 
Cheiro do suor da labuta
Na respiração ofegante
Cheiro acre das queimadas
O fogão da vida que apaga vidas
Cheiros de minha infância.

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Descompasso
Quebre todos os relógios
Cronômetros
Quando amei
Não fui amado
Quando me amaram
Não amei
Segui neste descompasso
Por invernos tristonhos
Primaveras de esperança
Outonos de saudade
Verões desperdiçando energia
Quando amei
Sonhava
Idealizava
Pensamentos fervilhavam
O corpo jovem ardia febril
A emoção suplantava a razão
Tudo era platônico
Só as desilusões eram reais
E o tempo esse maldito
Passou
Até desaguar num amor
Que dura até hoje
Onde o barco vai remando
Entre ondas e calmaria



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 Pedras a rolar

Quebre todos os relógios
Cronômetros
Rolam na força turbillhão de um rio
Descem montanhas
Avalanche ensurdecedor
Ventos movem pedras
Desertos escaldantes
Pedras rolam pelas mãos dos homens
É o progresso
Pedras rolam
Cotidiano imprevisível
Igual ao futuro
Hoje montanha
Amanhã pedregulho
Depois cascalho
Areia
Finalmente pó
Pedras em nosso caminho
Obstáculo a transpor
Com força e fé



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Velho Chico



Num filete de água cristalino 
Frágil e despretensioso
Nasce lá nas alterosas das Gerais
Correndo entre cachoeiras e cascatas
Vai rasgando abrindo caminho
Entre rochas duras e insensíveis
Numa luta geoclimática secular
A força da água
Deixa cicatrizes profundas
Velho Chico
Corre ora manso ora agitado
Silencioso e imponente
Alimentando o sertão de esperança
Em suas margens pretéritas
A cobiça do ouro
Nos tempos obscuros da escravidão
Pura irracionalidade
Velho Chico vai suportando maus tratos
Da chamada moderna civilização
Não reclama de nada
Aceita tudo em silêncio
Agressões ecológicas
Segue até chocar-se com o mar sempre de mau humor
Muda de cor
Mas não perde a dignidade

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Veneno

Fel
Amargo como um fruto putris
Ácido
Corroí as entranhas de um sentimento
Contamina a alma fulgida
Veneno maléfico
Atordoa a mente
Acelera o pensamento
Martelando sem parar
Veneno em doses homeopáticas
Gotejamento
Infiltrando-se nas veias
Dilatadas de ódio e paixão
Tantas ilusões perdidas
Fogo ingênuo arde
Só cinzas ficaram
Lembranças perdidas
Tatuadas na pele quase eterna
Veneno das palavras que ferem
Mais que o machado
Que escorre a seiva
Quando não exala mais o frescor do sândalo
Veneno que intriga
Mágoas de um amor diluviano não correspondido
Arde como um sol em brasa
Num deserto de uma vida
Condenado a uma noite escura.



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Sementes

Esperança: Brotam as flores,
Renovada primavera...
Milagre da árvore
Que germina gera flores, frutos,
Que maduros saciam o solo...
Desses frutos outros frutos:
Vida além da morte...
Reencarnação:
Em outro tempo,
Em outra mente...
Tudo de novo
Incessante
Semente...

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Árvore

Árvore
Semente provida do cerne da terra...
Árvore
Assediada por tantos intempéries
Árvore
Franzina, vigorosa...
Árvore
Frutos, sombra, frescor...
Lenha aquecendo a noite fria...
Árvore
Irmão do poeta
Papel para poesia...

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Sustentabilidade

Sou eu quando nasce
Teu dou sombra, fruto
Oxigênio para a vida
Sou madeira
Que aquece seu coração
Em noites frias
Sou berço quando nasce
Madeira para construção de seu lar
Cadeira para a varanda sombria
Quando morres
Sou esquife
Cuida bem de mim
Para que eu possa
Cuidar de ti
Continuar a minha missão

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Abismo da idade

À medida que o senhor da razão (o tempo) vai transcorrendo
Não percebemos o trágico desejo da velhice
O tempo nos parece estático
E a existência uma grande eternidade
Só damos conta quando a hora do sol-posto (ameaçador)
Bate a nossa porta levando consigo toda uma existência.


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Sublime renúncia



Renúncia

Perda sem volta

Desistência
Perda da força pela força
Estratégia de um momento
Recuar
Perder hoje
Para ganhar no amanhã
Saber aceitar
Se conformar
Remediar
Se revoltar
De que adianta
Só aumentar o sofrimento
Tudo vai passar
Ficarão só lembranças
Passado enterrado
De um rio que passou em nossas vidas


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Natureza agitada



Surge o vento

Um sopro divino

Balança o coqueiro à beira-mar
Surge a ventania uivando
Varrendo folhas ao léu
De repente o vendaval duro a açoitar
Logo aparece o furacão arrasador
O tornado em forma cônica
Rasga a campina
Enfim chega a brisa leve
Que se transforma em calmaria
Com ela a bonança
A natureza volta à paz


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Epílogo da vida



A vida começa a ficar cinza

As pétalas caem e rolam ao chão
O vento traz nuvens mal-humoradas
Chuvas derramam lágrimas de saudade
O cheiro do sândalo
Não é mais o mesmo
A desesperança se instala
O sol deixa no horizonte
Os últimos raios desmaiados
O tempo vai findando
A cigarra emudece
A floresta em silêncio perpétuo
O amor explosão química 
Muda seus elementos reagentes
Tudo ficará na lembrança
De um passado que segundos atrás
Foi futuro
Agora só lembranças

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Trovadores da mata


Canta o Sabiá na aroeira

Gorjeia a Cambaxirra

Pia o Iambú-Xitão
Stala o Canário da Terra
Quebra o coco o Azulão
Em forma de flauta canta o Bicudo
Suave como o violino
Marca o território o Curió
Trinca o Trinca-Ferro
Assovia o Sanhaço
Trina o Papa-Mel
Silva a Saíra-Pintor
Canta a natureza
Até quando?



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Cinzas



O amor virou cinzas

Mal ressuscitou Fênix

Morreu
Onde ficaram aqueles beijos ardentes?
As confissões entre quatro paredes?
As lembranças?
As palavras?
Os atos?
Tudo virou cinza
Os planos?
O gozo?
Ficou só no pensamento
O amor
Parecia indissolúvel
Tanto tempo de espera
Só alegrias momentâneas
Parecia nada segurar esse amor
Ficaria na eternidade
Alimentando-se de prazer
De repente
O silêncio
Um abismo
A falta de notícias
O simples desaparecer
Nenhuma satisfação
Só a solídão no peito
O vazio da alma
Por quê?

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Lágrimas
 


A primeira lágrima

Choro de uma vida

Que se inicia
Seguimos derramando lágrimas
Ora de alegria
Ora de dor
As lágrimas se sucedem
Nas vitórias
Nas derrotas
Impostas pela vida
Lágrimas de emoção
De angústia
De doença
Lágrimas de saudade
De um grande amor
Lágrimas no fim de uma relação
Lágrimas escorrem pelo rosto
Cheio de sulcos
Do peso da idade
A última lágrima
Derramada
Sobre um corpo inerte e frio
Gusanos o consumirão
Ficarão só lágrimas
Eternas de saudades

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Lembranças


Passaram-se os anos...

Tão rápido

Que nem se percebeu
No rosto apenas marcas de expressão
Passaram-se os anos...
Como água corrente dos rios
Levando e rolando seixos
Em meândricos caminhos
Anos de rebeldia
De felicidade
Infortúnios passageiros
Amores que se foram
Imagens que marcaram
Sonhos que ficaram apenas em sonhos
O tempo este maldito tempo
Corrói a alma
O corpo
Tempo de esperar
E esperar
A cada segundo envelhece
Tão rápido
Mal nasceu
Embraquece os cabelos
Passam-se primaveras floridas
Verões ardentes
Invernos gélidos
Outonos chuvosos
Passa a juventude
Tão rápido
Que parece que foi ontem o amanhecer

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Rios de minha vida



Passaram por mim

Mansos
Agitados
Encachoeirados
Sinuosos
Rios de lágrimas
Passaram
Quando foste embora
De sangue partiu meu coração
Rios de leve correnteza
Como passos da velhice
Turbulentos de crises passageiras
Rios de solidão em noites maldormidas
Luar iluminando meus caminhos
Águas passageiras ano após ano
Navegadas
Marcando o tempo
Rio Preguiça
Onde nas margens estiquei minha rede
São Francisco
Onde avistei a bela morena a lavar roupa à margem
Rio Amazonas quase naufraguei
No Paraíba do Sul café plantei
No Paraná corredeiras enfrentei
No Rio de Janeiro fiquei.


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Pegadas mutantes

Levantou-se cedo, ao bocejar dos primeiros raios do sol, e sentou-se no banco da praça, onde a vida já dava os primeiros passos de um novo dia. Resolveu então caminhar nas areias da praia, onde o mar quase sempre mal-humorado ia com suas ondas lambendo a alva areia. Escreveu um poema como Anchieta, sabendo que logo o sal amargo das águas iria apagar e não deixaria vestígios. Continuou a caminhada, agora pela terra fresca, úmida de um orvalho noturno resultado do choro em silêncio, lamento de uma noite. Seguiu para o deserto deixando pegadas nas dunas que logo seriam cobertas pelo açoite de um vento quente e abrasador que mudará de direção as dunas imponentes não deixando digitais, sinais de pés esfolados que ali passaram. Desistiu, preferiu deixar pegadas na umidade da densa floresta infestada de sons,onde caminhos em círculo levam ao mesmo lugar,onde só as entidades conseguem se locomover num emanharado de galhos e cipós que impedem os raios do sol penetrar, e a chuva torrencial apaga da lama as pegadas dos seres ocultos da floresta deixando o solo nutrido de folhas mortas,secas sobre um tapete verde. A camin hada continua,insiste em deixar pegadas, agora na geleiras azuis da cordilheira,onde a última palmeira resiste firme a baixa temperatura;enfim cansou,volta ao lar,pois o sol irá virar breu,o cintilar das estrelas se anuncia, a lua preguiçosa é minguante, nosso andarilho se deita em seu leito reparador, entrega-se aos braços de morfeu, sonha com um amor imossível, igual as pegadas que tentou perpetuar em longo caminho... Amanhã novas pegadas irão surgir e sumir num ciclo natural.





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